Rotina de compra e venda de drogas em escolas foi acompanhada de perto
Leticia Duarte | leticia.duarte@zerohora.com.br
Desconfie se você vir alguém segurando notas de dinheiro com as mãos fechadas nos arredores de uma escola. Esse é um dos códigos utilizados entre usuários e traficantes para a transação da droga.
Rastreada pelo Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) durante a Operação Escola 2009, que resultou na prisão de 43 pessoas, a rotina de compra e venda de substâncias ilícitas no entorno de 34 instituições da Região Metropolitana lança um alerta aos pais.
Ao longo da ação, que durou todo o mês de abril, 30 jovens policiais se infiltraram em pontos frequentados pelos traficantes, geralmente localizados no meio do caminho dos estudantes, como praças em frente aos colégios e bares nas redondezas. Vestidos com trajes semelhantes aos utilizados pelos alunos, como bermudas, bonés e correntes no pescoço – e munidos de bicicletas, skates e até bolas de basquete –, os agentes testemunharam como os vendedores se aproximam.
A substância mais apreendida foi a maconha, com 17,5 quilos. Apesar de tolerada por parte da população por ser considerada de menor poder ofensivo, pesquisas comprovam que a droga é especialmente perigosa porque é a porta de entrada para outras mais pesadas, como o crack e a cocaína.
– A escola é um prato cheio. O traficante nem se aproxima, é o aluno que se aproxima dele. Eles não saem gritando, mas todos os procuram, vai de boca em boca – diz o delegado Fernando Oliveira, diretor da Divisão de Investigação do Narcotráfico do Denarc.
O comércio é realizado em todos os turnos, inclusive pela manhã, mas a maior concentração ocorre nos finais de tarde e à noite. E em todas as classes sociais. Embora a maioria das instituições incluídas na operação sejam públicas, também foram realizadas prisões em redutos da classe média e alta, como as imediações do Colégio Militar, em Porto Alegre. Segundo Oliveira, a seleção das escolas foi feita a partir de informações repassadas por anônimos ao Disque-Denúncia.
Aos pais, a orientação é que redobrem as atenções, porque nenhum território está imune ao tráfico.
– Os pais precisam saber onde o filho está, com quem está e o que está fazendo. Ainda vale aquele velho ditado: me diga com quem andas, te direi quem és – orienta Oliveira.
Entrevista: INSPETOR PARTICIPANTE DA OPERAÇÃO
Um inspetor de 26 anos que participou da operação nas escolas conta detalhes. Por segurança, seu nome é preservado.
Zero Hora – Como é feita a infiltração?
Inspetor – Nós nos adaptamos ao ambiente. Se o tráfico ocorre próximo a uma praça, a gente chega sem camisa, de bermuda, finge que está correndo. Busca-se uma atitude igual à dos usuários. A maioria chega com dinheiro na mão ou com a mão fechada, o usuário e o traficante conhecem o sinal. Não se chega perguntando quem é que tem, isso levanta suspeita.
ZH – Como ocorre a aproximação dos traficantes?
Inspetor – Eles são bastante desconfiados, se percebem a presença de estranhos eles se fecham. É um círculo fechado. Na maioria das escolas, eles já são conhecidos, um indica para o outro. Às vezes, eles nem conversam, os estudantes já chegam com dinheiro e ganham a droga. Mas é fácil perceber porque várias pessoas chegam, conversam rapidamente e vão embora. Eles se adaptam ao mundo dos estudantes, alguns até jogam bola com eles.
ZH – Houve alguma situação inusitada durante as abordagens?
Inspetor – Teve um dia em que eu e um colega estávamos caminhando na Redenção, com dinheiro na mão, e ouvimos o pessoal comentar que estava desconfiado que tinha a Brigada na praça. Aí em seguida passou uma viatura. Logo depois, passou um casal e viu que a gente estava com dinheiro na mão, e o cara ficou olhando o dinheiro e disse: “Opa, tudo bom?” E aí meu colega perguntou: “Tem um de fumar?”. E o cara disse: “Sim, sim, mas tem que ser rapidinho que os brigadianos estão ali, tá tudo aqui na bolsa dela”. Aí nós prendemos os dois em flagrante.
Fonte: zerohora.com
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